Obrigado, Pantera | Edição 96
A melhor, mais moderna, mais bonita e mais barata newsletter sobre o Furacão. Em Mauro Singer Nós Confiamos. Professor Carrilho presente
Foi um domingo triste para todos nós. Morreu o Flávio, o Pantera. O goleiro que viu e fez tudo acontecer. Chegou ao Athletico em 1995, tratado com preconceito pela imprensa local, como um dos jogadores de uma “invasão cabeça chata” na Baixada. Foi embora como o maior campeão da história do clube. Despede-se como uma lenda.
Sem saber o que escrever sobre o Flávio em momento tão difícil, e com receio de soar excessivamente piegas, uma das especialidades da Newsletter Baixada, chamamos alguém que, como o alagoano campeão brasileiro de 2001, acostumou-se a situações delicadas. E sempre soube bem o que dizer sobre o Furacão.
A edição 96 desta publicação que, à sua maneira, tenta preservar o passado, cuidar do presente e, principalmente, olhar para o futuro do Vermelho e Preto, é assinada por outro ex-arqueiro e ícone atleticano. Direto do Espírito Santo, Ricardo Pinto concedeu o depoimento que você lê logo abaixo. Obrigado, Ricardo.
|NESTA EDIÇÃO|
|PRELEÇÃO|
*Obrigado, Pantera
Convidamos outro ícone atleticano para nos despedir do Flávio, o Pantera. O também ex-goleiro Ricardo Pinto escreve sobre o maior campeão da história do Athletico, que nos deixou aos 54 anos.
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Esta é uma edição de Baixada, uma newsletter sobre o Athletico. Direto no seu e-mail, conteúdo do Furacão que não se encontra por aí. Produção independente de André Pugliesi e Sandro Moser. Inscreva-se abaixo e receba gratuitamente!
|PRELEÇÃO|
Uma reportagem, um texto, um relato extraordinário sobre nossas cores & valores
Obrigado, Pantera
por Ricardo Pinto
Se eu ainda pudesse falar alguma coisa para o Flávio, e eu acho que, de alguma forma, sempre há tempo para que a gente expresse o que sente, eu só queria agradecer. Fui pego de surpresa com a notícia, estou em choque. Eu o admirava demais. E sei que ele me admirava também. Obrigado, Flávio. Obrigado, Pantera.
Quando eu cheguei ao Athletico, no segundo semestre de 1995, o Flávio e o Bira eram os goleiros. E eu falava para o Flávio, brincando, que ele ia ter de esperar eu sair para jogar. Mas a presença dele como reserva foi fundamental. A qualidade do Flávio era muito grande, e ele me forçava a jogar cada vez melhor, o tempo inteiro.

Ele era um goleiro incrível e treinava demais. Além de ter muita força, explosão, qualidade e competência, era um cara de sorte. A gente costumava dizer que ele não chamava gol. Quando falhava, e todo goleiro falha, a bola batia na trave e saía, o zagueiro tirava, o time ganhava e ninguém nem se importava.
Sempre foi um cara firme. Personalidade positiva, poderosa. Apesar de tímido, de não se expressar muito bem, tinha força esportiva, força mental. Nunca vi um goleiro tão rápido na minha vida. Eu comparava o Flávio com o Ricardo Cruz, da minha época de Fluminense. Não por acaso foi tantas vezes campeão.
Depois de ter jogado com o Flávio, tive a possibilidade de treiná-lo, como preparador de goleiros do Furacão em 2001. Eu não tinha experiência na função. E acho que ele sempre acreditou naquilo que eu tinha para poder passar para ele. E também por isso foi um dos melhores goleiros do ano. Para mim, o melhor. Confiávamos um no outro.

Ele tinha aquela fisionomia fechada, meio mal-humorada, nervosa, jeito de cara emburrado. Mas, na verdade, pode acreditar, não era nada disso. Ele era muito brincalhão, todo mundo brincava com ele e o Flávio não se importava com isso, nunca apelou. E era também muito medroso.
Logo no começo do CT do Caju, nós ficávamos concentrados numa área que depois virou a parte antiga, onde é a sala de troféus hoje. Tinha uma cerca e a gente pegava uns mamões e botava umas velas acesas junto. Eu dividia o quarto com o Flávio e o chamava para ver. Ele tinha verdadeiro pavor dessas coisas.
Era um cara até certo ponto ingênuo, de tão boa pessoa. Certa vez, comprou um Escort XR3 conversível. Um certo dia choveu, e o Flávio não foi treinar. No dia seguinte, chegou ao CT e disse que não pôde ir pois o Escort encheu de água, ficou alagado. Todo mundo brincou muito com isso.
Já há alguns anos, não sou bom para datas, ele me ligou e perguntou se eu estava em algum clube. Eu já estava morando aqui no Espírito Santo e o Flávio estava querendo trabalhar como treinador de goleiros. Prometi a ele que, se eu arrumasse um time como técnico, iria levá-lo como preparador. Acabou não acontecendo.
Veio a notícia da doença e eu fiquei sabendo da gravidade. Depois, houve a cirurgia. Ele ficou bom, mas já estava com outros problemas. Falei com o Flávio pela última vez faz pouco tempo, menos de um mês. Ele me disse que estava com dores nas pernas, e eu passei uns exercícios para ver se ajudava.
É muito duro, muito triste, apenas 54 anos. E a gente precisa falar do Cocito, que foi realmente um cara muito importante nessa dificuldade do Flávio. Ele quem liderou toda a campanha para ajudá-lo, foi o anjo da guarda. E o Cocito é bem isso: o cara que aparece quando a gente mais precisa.
Como foi o Flávio também. O cara que apareceu quando o Athletico mais precisava, defendendo o gol. Quando eu mais precisei, um reserva que estivesse sempre ao meu lado, me apoiando nos treinos, pronto para jogar e, depois, sendo o goleiro que me fez aprender a ser preparador da posição e campeão brasileiro.
Obrigado, Flávio.
|QUEM FAZ|
André Pugliesi, é jornalista, de Curitiba, 46 anos, tem 20 anos de atuação no ramo esportivo. Contato: andrepugliesi@gmail.com
Sandro Moser, é jornalista, de União da Vitória, 47 anos, escritor, autor da biografia “Sicupira - Vida e Gols de Um Craque Chamado Barcímio”.
Contato: sandrommoser@gmail.comathletico
Grande profissional, Flávio honrou o manto.🙏🏿
Que texto bonito e necessário. O Flávio, nosso Pantera, sempre foi muito mais do que aquele goleiro sério debaixo das traves. Foi exemplo de profissionalismo e ver o carinho nas redes sociais hoje mostra o quanto ele foi importante para nosso Furacão, e também para todos que tiveram a honra de conhecê-lo de perto. O maior campeão da história do clube, no fundo, um cara simples, leal e generoso. Vai fazer muita falta. Obrigado por tanto Pantera. Descanse em paz.